quarta-feira, 25 de março de 2009

Artigo - Aborto


As crianças mortas simplesmente não entram na equação, não são consideradas. O próprio estupro só é mencionado de passagem. O risco de vida para a mãe é transformado em uma certeza de sua morte.” Nunca gerou tanto espanto ou fez tamanho sentido a declaração dada por dom Cardoso, arcebispo de Olinda e Recife, no estado de Pernambuco.
Imagine você: uma menina de nove anos é estuprada pelo padrasto e engravida de gêmeos. E agora? De acordo com a lei brasileira, ela tem o direito de abortar, pois foi vítima de violência sexual. Acontece que para tentar fazer valer esse direito, foi necessário que ela saísse do interior rumo à capital pernambucana. Daí, nos perguntamos por que a declaração de dom Cardoso gera tanto espanto assim.
De fato, o caso não é uma exceção. No Amazonas, por exemplo, esse drama é uma regra. Dados de 2008 revelam que 1,1 mil crianças de 10 a 14 anos completaram a gestação e outras 5,6 mil procuraram a rede pública de saúde para fazer a curetagem (raspagem do útero) após a prática de aborto em clínicas clandestinas ou em casa, após ingerir substâncias abortivas.
O drama do aborto e da gravidez não interrompida em milhares de mulheres vítimas de violência em Manaus e no interior do Amazonas caminha lado a lado. A dor de interromper a gestação ou de decidir ter um filho, na maioria das vezes indesejado, marca a vida de uma multidão de anônimas obrigadas a carregar o “peso” para o resto da vida.
O que deve ser priorizado: uma vida que ainda não chegou, ou aquela que está ali, de olhos abertos e coração batendo, querendo apenas apagar de si a dor e o sofrimento de gerar o fruto de uma agressão, de uma brutalidade?
Infelizmente nossa lei é muito negligente, pois se baseia no flagrante, mas como o flagrante pode acontecer se diariamente crianças são abusadas dentro de casa?
A conclusão é que as punidas são as próprias meninas. Primeiro pela exploração sexual e segundo porque quase sempre ela é excluída do convívio com sua família, do seu ambiente natural. Isso sem contar o psicológico extremamente abalado que vai permanecer com as vítimas. É preciso rever. Rever várias coisas erradas e que estão fora do lugar. Por que é tão difícil conseguir abortar, mesmo resguardada pela lei? É tão errado assim querer apagar as marcas de tamanha violência, mais ainda quando o corpo mal tem condições de sustentar, perfeitamente, a si próprio? Existe um acompanhamento médico e psicológico para quem, por infortúnio, sofre um estupro e engravida?
É necessário luta e reivindicação de direitos, em qualquer lugar, a qualquer tempo.

Nathália Andrade.

1 Comentário(s):

Lulu disse...

sou totalmente a favor do aborto..esse papa é um tapado.
devia haver um referendo sobre isso.

=]